ia fazendo no chão o rumor de uma cobra irritada que roja por folhas seccas. Sem nos cortejar, impudentemente, poz-se a marchar ao nosso lado. Eu percebi bem que era o Diabo; mas não senti escrupulo, nem terror. A insaciavel Adelia atirava olhadellas obliquas á potencia dos seus musculos. Eu dizia-lhe, indignado: «Porca, até te serve o Diabo?»

Assim marchando, chegámos ao alto do monte — onde uma palmeira se desgrenhava sobre um abysmo cheio de mudez e de treva. Defronte de nós, muito longe, o céo desdobrava-se como um vasto estofo amarello: e sobre esse fundo vivo, côr de gema d’ovo, destacava um negrissimo outeiro, tendo cravadas no alto tres cruzinhas em linha, finas e d’um só traço. O Diabo, depois de escarrar, murmurou, travando-me da manga: «A do meio é a de Jesus, filho de José, a quem tambem chamam o Christo; e chegamos a tempo para saborear a Ascensão.» Com effeito! A cruz do meio, a do Christo, desairragada do outeiro, como um arbusto que o vento arranca, começou a elevar-se, lentamente, engrossando, atravancando o céo. E logo de todo o espaço voaram bandos de anjos, a sustel-a, apressados como as pombas quando acodem ao grão; uns puxavam-