morria com um susurro de vaga espraiada: e logo mais longe um canto armenio, tremulo e ancioso, batia os muros austeros como a palpitação das azas d’uma ave presa que quer fugir para a luz. Junto d’um altar apartei dois gordos sacristães, um grego, outro latino, que se tratavam furiosamente de birbantes, esbrazeados, cheirando a cebola: e fui d’encontro a um bando de romeiros russos de grenhas hirsutas, vindos decerto do Caspio, com os pés doloridos embrulhados em trapos, que não ousavam mover-se, enleados de terror divino, torcendo o barrete de feltro entre as mãos, d’onde lhes pendiam grossos rosarios de vidro. Crianças, em farrapos, brincavam na escuridão das arcarias; outras pediam esmola. O aroma do incenso suffocava; e padres de cultos rivaes puxavam-me pela rabona para me mostrarem reliquias rivaes, heroicas ou divinas — uns as esporas de Godofredo, outros um pedaço da Cana Verde.

Atordoado, enfileirei-me n’uma procissão penitente — onde eu julgára entrevêr, brancas, altivas, entre véos pretos d’arrependimento, as duas pennas de gaivota. Uma carmelita, á frente, resmungava a ladainha, detendo-nos a cada passo, arrebanhados n’um assombro devoto, á porta de capellas cavernosas,