o rude propheta, acariciado, amimado, amollecido pelo louvor e pelo bom vinho de Sichem, approvava estes negros amores, e pela persuasão da sua voz, dominante em Judêa e Galilêa, os tornava aos olhos dos fieis brancos como a neve do Carmello. Mas, desgraçadamente, D. Raposo, o Baptista não tinha originalidade. Santo respeitavel, sim; mas nenhuma originalidade... O Baptista imitava em tudo servilmente o grande propheta Elias; vivia n’um buraco como Elias; cobria-se de pelles de feras como Elias; nutria-se do gafanhotos como Elias; repetia as imprecações classicas de Elias: — e como Elias clamára contra o incesto d’Achab, logo o Baptista trovejou contra o incesto de Herodiade. Por imitação, D. Raposo!

— E emmudeceram-no com a masmorra!

— Qual! Rugiu peor, mais terrivelmente! E Herodiade escondia a cabeça no manto para não ouvir esse clamor de maldição, sahido do fundo da montanha.

Eu balbuciei, com uma lagrima a amollentar-me a palpebra:

— E Herodes mandou então degolar o nosso bom S. João!

— Não! Antipas Herodes era um frouxo, um tibio... Muito lubrico, D. Raposo, infinitamente lubrico, D. Raposo! Mas que