sem nós de raizes, semelhante a uma enorme moca bruscamente cravada na areia: a casca corredia tinha o lustre oleoso de uma pelle negra: e da sua cabeça entumecida, de um tom de tição apagado — rompiam, como longas pernas d’aranha, oito galhos que contei, pretos, molles, lanugentos, viscosos, e armados de espinhos... Depois de olhar em silencio para aquelle monstro, tirei devagar o meu capacete e murmurei:

— Para que viva!

É que me encontrava certamente diante d’uma arvore illustre! Fôra um galho igual (o nono talvez) que, arranjado outr’ora em fórma de corôa por um centurião romano da guarnição de Jerusalem, ornára sarcastimente, no dia do suplicio, a cabeça de um carpinteiro de Galilêa, condemnado... Sim, condemnado por andar, entre quietas aldeias e nos santos pateos do Templo, dizendo-se filho de David e dizendo-se filho de Deus, a prégar contra a velha Religião, contra as velhas Instituições, contra a velha Ordem, contra as velhas Fórmas! E eis que esse galho por ter tocado os cabellos incultos do rebelde torna-se divino, sobe aos altares, e do alto enfeitado dos andores faz prostrar no lagedo, á sua passagem, as multidões enternecidas...