Somnolento, rememorando velhas imprecações do Evangelho, eu rosnava, encolhido no meu albornoz:

— Phariseu, sepulchro caiado... Maldito seja!

Era a hora calada em que os lobos dos montes vão beber. Cerrei os olhos; as estrellas desmaiavam.

Breves faz o Senhor as noites macias do mez de Nizam, quando se come em Jerusalem o anho branco de Paschoa: e bem cedo o céo se vestiu d’alvo do lado do paiz de Moab.

Despertei. Já os gados balavam nos cerros. O ar fresco cheirava a rosmaninho.

E então avistei, errando por cima dos penedos sobranceiros ao caminho, um homem estranho, bravio, coberto com uma pelle de carneiro, que me recordou Elias e todas as cóleras da Escriptura; o peito, as pernas pareciam de granito vermelho; por entre a grenha e a barba, rudes, emmaranhadas, fazendo-lhe como uma juba feroz, os olhos refulgiam-lhe desvairadamente... Descobriu-nos; e logo, sacudindo os braços como quem arremessa pedras, despediu sobre nós todas as maldições do Senhor! Chamou-nos «pagãos», chamou-nos «cães»: gritava «malditas sejam as vossas mães,