Mas de repente Sarêas collou ao corpo as mangas franjadas, mudo e mais teso que um conto de lança: o escriba romano, de pé, com os punhos fincados na mesa, vergava o cachaço reverente e nedio: o Assessor sorria, attento. Era o Pretor que ia interrogar o Rabbi: e eu, tremendo, vi um Legionario empurrar Jesus que ergueu a face...

Debruçado de leve para o Rabbi, com as mãos abertas que pareciam soltar, deixar cahir todo o interesse por esse pleito ritual de sectarios arguciosos, Poncius murmurou, enfastiado e incerto:

— És tu então o rei dos judeus?... Os da tua nação trazem-te aqui!... Que fizeste tu?... Onde é o teu reino?

O interprete, enfatuado, perfilado junto ao sólio de marmore, repetiu muito alto estas coisas na antiga lingua hebraica dos Livros Santos: e, como o Rabbi permanecia silencioso, gritou-as na falla chaldaica que se usa em Galilêa.

Então Jesus deu um passo. Eu ouvi a sua voz. Era clara, segura, dominadora e serena:

— O meu reino não é d’aqui! Se por vontade de meu Pai eu fosse rei de Israel, não estaria diante de ti com esta corda nas mãos...