logo achei-me a caminhar á beira d’um rio claro, onde os choupos, já muito velhos, pareciam, ter uma alma e suspiravam; e ao meu lado ia andando um homem nú, com duas chagas nos pés, e duas chagas nas mãos, que era Jesus, Nosso Senhor.

Passados dias, acordaram-me, n’uma madrugada em que a janella do meu quarto, batida do sol, resplandecia prodigiosamente como um prenuncio de coisa santa. Ao lado da cama, um sujeito risonho e gordo fazia-me cocegas nos pés com ternura e chamava-me bréjeirote. A Gervasia disse-me que era o snr. Mathias, que me ia levar para muito longe, para casa da tia Patrocinio: e o snr. Mathias, com a sua pitada suspensa, olhava espantado para as meias rôtas que me calçára a Gervasia. Embrulharam-me no chale-manta cinzento do papá; o João, guarda da alfandega, trouxe-me ao collo até á porta da rua, onde estava uma liteira com cortinas d’oleado.

Começámos então a caminhar por compridas estradas. Mesmo adormecido, eu sentia as lentas campainhas dos machos: e o snr. Mathias, defronte de mim, fazia-me de vez em quando uma festinha na cara, e dizia: «Ora cá vamos.» Uma tarde, ao escurecer, parámos de repente n’um sitio ermo,