com o frasco do Jordão embrulhado na Nação, eu, Theodorico Raposo, achava-me fatalmente, providencialmente, estabelecido vendilhão de reliquias!

D’ellas comi, d’ellas fumei, d’ellas amei, durante dois mezes, quieto e aprazido na Pomba d’Ouro. Quasi sempre o snr. Lino surdia de manhã no meu quarto, de chinelos, escolhia um caco do cantaro da Virgem ou uma palhinha do Presepio, empacotava na Nação, largava a pecunia e abalava assobiando o De Profundis. E evidentemente o digno homem revendia as minhas preciosidades com gordo provento — porque bem depressa, sobre o seu collete de velludo preto, rebrilhou uma corrente d’ouro.

No emtanto, muito habil e fino, eu não tentára (nem com supplicas, nem com explicações, nem com patrocinios) amansar as beatas iras da titi e repenetrar na sua estima. Contentava-me em ir á egreja de Sant’Anna, todo de negro, com um ripanço. Não encontrava a titi, que tinha agora de manhã no Oratorio missa do torpissimo Negrão. Mas lá me prostrava, batendo contritamente no peito, suspirando para o Sacrario — certo que, pelo Melchior sacristão, as novas da minha devoção inalteravel chegariam á hedionda senhora.