inchavam n’uma indignação de intermediario espoliado.

Todas as minhas Reliquias eram acolhidas com o mais forte fervor — porque provinham «do Raposo, fresquinho de Jerusalem.» Os outros Reliquistas não tinham esta esplendida garantia d’uma jornada á Terra Santa. Só eu, Raposo, percorrêra esse vastissimo deposito de santidade. Só eu de resto sabia lançar na folha sebacea de papel que authenticava a reliquia — a firma floreada do snr. Patriarcha de Jerusalem.

Mas bem cedo reconheci que esta profusão de Reliquilharia saturára a devoção do meu paiz! Atochado, empanturrado de Reliquias, este catholico Portugal já não tinha capacidade — nem para receber um d’esses raminhos seccos de flôres de Nazareth, que eu cedia a cinco tostões!

Inquieto, baixei melancolicamente os preços. Prodigalisei, no Diario de Noticias, annuncios tentadores — «Preciosidades da Terra Santa, em conta, na tabacaria Rego, se diz...» Muitas manhãs, com um casacão ecclesiatico e um cache-nez de sêda disfarçando a minha barba, assaltei á porta das egrejas velhas beatas: offerecia pedaços da tunica da Virgem Maria, cordeis das sandalias de S. Pedro: e rosnava com ancia, roçando-