almoçar ao Hotel Central, e embarcavamos de lá para Cacilhas. Estou com vontade que conheças minha irmã!...

Chrispim & C.ª era um cavalheiro religioso que considerava a Religião indispensavel á sua saude, á sua prosperidade commercial, e á boa ordem do paiz. Visitava com sinceridade o Senhor dos Passos da Graça, e pertencia á Irmandade de S. José. O empregado, cuja carteira eu occupava, tornára-se-lhe sobretudo intoleravel por escrever no Futuro, gazeta republicana, folhetins louvando Renan e ultrajando a Eucharistia. Eu ia dizer a Chrispim & C.ª que estava tão apegado á missa da Conceição Nova, que outra não me podia saber bem... Mas lembrei a Voz austera e salutar da travessa da Palha! Recalquei a mentira beata que já me sujava os labios — e disse, muito pallido e muito firme:

— Olha, Chrispim, eu nunca vou á missa... Tudo isso são patranhas... Eu não posso acreditar que o corpo de Deus esteja todos os domingos n’um pedaço d’hostia feita de farinha. Deus não tem corpo, nunca teve... Tudo isso são idolatrias, são carolices... Digo-te isto rasgadamente... Pódes fazer agora commigo o que quizeres. Paciencia!