cruzadas sobre a mesa, pareceu-me sinistro: e n’esse instante o criado trouxe a bandeja do chá, sorrindo, e felicitando o magistrado por o vêr melhor do seu catarrho.

— Deliciosa torrada! murmurou o doutor.

— Excellente torrada! suspirei eu cortezmente.

De vez em quando o dr. Margaride esfuracava um queixal; depois limpava a face, os dedos; e recomeçava a mastigar devagar, com delicadeza e com religião.

Eu arrisquei outra palavra timida.

— A titi, é verdade, tem-me amizade...

— A titi tem-lhe amizade, atalhou com a bocca cheia o magistrado, e você é o seu unico parente... Mas a questão é outra, Theodorico. É que você tem um rival.

— Rebento-o! gritei eu, irresistivelmente, com os olhos em chammas, esmurrando o marmore da mesa.

O moço triste, lá ao fundo, ergueu a face de cima do seu capilé. E o dr. Margaride reprovou com severidade a minha violencia.

— Essa expressão é impropria d’um cavalheiro, e d’um moço comedido. Em geral não se rebenta ninguem... E além d’isso o seu rival não é outro, Theodorico, senão Nosso Senhor Jesus Christo!