lá embaixo, isolada e pequenina, na solidão das águas.

Estava uma manhã gloriosa, céu azul cheio de sol, mar de um azul ainda mais denso, pacificado pela doçura da atmosfera.

Pelos socalcos abruptos da montanha desciam os quintais e o casario disperso. A grande alegria da luz envolvia tudo: manchas vermelhas de barro, tufos de vegetação, quadros domésticos encerrados entre a brancura de quatro muros caiados surpreendidos do alto, homens trabalhando nas suas hortas, mulheres estendendo roupa ao sol. O azul e o verde enchiam o ar com os seus tons fortes. Água, céu e montanhas, tudo isso a viúva olhava do alto, como se estivesse suspensa no espaço. Seguindo a linha alva de uma praia riscada além da baía, o seu pensamento ia agora em linha reta aos primeiros tempos da sua vida.

Mal se lembrava da mãe, um vulto tênue que fugia à sua lembrança... ficara órfã cedo... Do pai sim! Que bom velho! Que doce amigo fora ele sempre!...

A transparência do dia fazia realçar com nitidez todas as minúcias da paisagem, mas os olhos da viúva afeitos àquele esplendor não o observavam, tinham um fluído dourado, vago, de quem olha para coisas que outros não vêem...

Lembranças antigas de pessoas, de palavras, de idéias ou de sonhos, fugidios, apagados ou mortos.