- Daqui a uma hora dê-lhe uma colher de xarope. Depois só o calmante.

A viúva acompanhou o médico até a porta repetindo a pergunta:

- Há perigo... há muito perigo?!

- Não posso dizer nada... por enquanto... respondeu o médico embaraçado

Ernestina juntou as mãos, aflita.

- Amanhã deve apresentar melhoras... murmurou ele, procurando consolá-la. Ele saiu, Ernestina voltou cambaleante para o quarto da filha.

Aproximou-se do leito; Sara tinha os olhos abertos, mas fixos, mudos.

- Meu amor... como estás?

Sara não se moveu. Ernestina recuou, chorando, para um recanto mais sombrio do quarto.

Havia já muitos dias que aquilo era assim; dias e noites passadas naquele canto, com as mãos nos joelhos e olhos na filha. De vez em quando levantava-se; Sara gemia, ela ia arranjar-lhe a roupa, beijá-la, pedir-lhe perdão, baixinho, com toda a humildade e ternura; sem obter nenhum olhar em resposta, voltava para o seu canto, lugubremente. Rezava então de um modo desordenado e aflito, encolhendo-se na cadeira, com verdadeiro pavor do retrato do marido que continuava suspenso sobre a cabeceira da cama, e que parecia estar ali para proteger a filha e argüir terrivelmente a esposa. A viúva via