Georgina ia e vinha muito ligeira, esquecia minúcias que ligavam o entrecho, voltava atrás, parava de repente para um detalhe, descrevia os vestidos das atrizes e atrapalhava-se a miúdo embrulhando cenas ou repetindo frases.

Às vezes, num ou noutro ponto, confessava: aqui não entendi bem! e, outras vezes então, a sua imaginação colaborava em grande escala com o autor da peça, descrita e ampliada.

Sara impacientava-se, tirava por conclusões, farrapo a farrapo, o drama inteiro! Como deveria ser lindo!

Na manhã seguinte a uma récita do Lírico, Georgina ia mais cedo para a casa da amiga, havia mais que contar. Em primeiro lugar, descarnava-se o libreto, depois o cenário. Georgina movia o seu corpo leve e delgado, explicando com muitos gestos:

- A cena representava o mar, ao fundo; à esquerda uma igreja com torres, sino e tudo. Aqui, e apontava para um canteiro de jurujubas, havia uns degraus, ali (outro canteiro) uma casa grande com um portão em arco; à direita as ruas. Quando a Theodorini entra, com um grande véu branco pelo rosto e o vestido de noiva a rastos, a gente sente una calafrio - que não pode explicar.

Podia; Sara encolhia os ombros, imitando insensivelmente o movimento da outra.

- Que pena que você não ouça a Theodorini!