Ernestina, meio oculta pela cortina de renda preta, deixava-se abraçar amolecida, tonta, sem forças para resistir; o busto vergado para Luciano, os braços pendentes, o corpo trêmulo.
Nas paredes cinzentas da sala, os arabescos de ouro cintilavam, como se os milhares de gafanhotos que estampavam no papel suas asas agudas e as suas pernas finíssimas, se embaralhassem numa dança endiabrada!
O gás a toda força chamejava no cristal do espelho, amornando a atmosfera e fazendo uma bulha de sopro surdo, como riso abafado!
Toda a energia da viúva tinha fugido. A luz? Que lhe importava a luz?! Ela não via, não pensava, resvalava sem pena nem cuidado, sentindo-se feliz, mais nada!
Subitamente ouviram a voz de Sara, que se aproximava de casa, cantando alto.
- Vá-se embora, Luciano!
- Mais um momento...
- Minha filha aí vem!...
- Está ainda em casa da Gina... a voz vem de lá...
- Não, vem do jardim...
- Mais um beijo... Afirmo-lhe que ela está em casa da Gina!
- E que esteja... é tarde.
- É cedo...
Ele quis abraçá-la; ela resistiu: reassumira toda a sua energia.