A Rua

 

Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda intima não vos seria revelado por mim si não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguaes; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a policia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbavel e indissoluvel, o unico que, como a propria vida, resiste ás idades e ás épocas. Tudo se transforma, tudo varia — o amor, o odio, o egoismo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os seculos passam, deslisam, levando as coisas futeis e os acontecimentos notaveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.