de gema de ovo batida, com um riso idiota na face, um riso de pavor que lhe deixa ver a dentuça suja e negra.

– Que quer, senhor?

Tomamos um ar de bonomia e falando como a querer enterrar as palavras naquele crânio já trabucado.

– Chego de Londres, com um quilo de ópio, bom ópio.

– Ópio?... Nós compramos em farmácia... Rua S. Pedro...

– Vendo barato.

Os olhos do celeste arregalam-se amarelos, na amarelidão da face.

– Não compreende.

– Decida, homem...

– Dinheiro, não tem dinheiro.

Desconfiará ele de nós, não acreditará nas nossas palavras? O mesmo sorriso de medo lhe escancara a boca e lá dentro há cochichos, vozes lívidas...O meu amigo bate-lhe no ombro.

– Deixa ver a casa.

Ele recua trêmulo, agarrando a rótula com as duas mãos, dispara para dentro um fluxo cuspinhado de palavrinhas rápidas. Outras palavrinhas em tonalidades esquisitas respondem como pizzicatti de instrumentos de madeira, e a cara reaparece com o sorriso emplastrado:

– Pode entrar, meu senhor.

Entramos de esguelha, e logo a rótula se fecha num quadro inédito. O no 19 do Beco dos Ferreiros é a visão oriental das lôbregas bodegas de Xangai. Há