O gorduchão abriu a boca, onde faltavam os dentes.
– Já não trabalho de noite: tenho 70 anos. Não vejo. Desde 1864 que estou no serviço. Outro dia quase morro; caí da boléia. Tenho as pernas duras.
– Bamba, meu velho...
– Sou o primeiro cocheiro, o mais velho, não há nenhum mais velho...
Eu voltei-me para o mulato, interroguei-o quase em segredo:
– Mas que diabo vem ele fazer aqui, assim?
O mulato sorriu com tristeza.
– Sei lá! É o cheiro, vossa senhoria, é o cheiro! Quando a gente começa nesta vida, não pode viver sem ela...É o cheiro.
A praça vibrava numa estrepitosa animação, os combustores reverberavam em iluminações fantásticas, e, só, no céu calmo, como uma hóstia de tristeza, a velha lua esticava a triste foice do seu crescente.