Página:A correspondencia de Fradique Mendes (1902).djvu/133

de Whatman, ebúrneas bastante, para que a pena corresse nelas com o desembaraço com que a voz corta o ar; vastas bastante, para que nelas coubesse o desenrolamento da mais complexa ideia; fortes bastante, na sua consistência de pergaminho, para que não prevalecesse contra elas o carcomer do tempo. «Calculei já, ajudado pelo Smith (afirma ele a Carlos Mayer), que cada uma das minhas cartas, neste papel, com envelope e estampilha, me custa 250 réis. Ora supondo vaidosamente que, cada quinhentas cartas minhas, contêm uma ideia—resulta que cada ideia me fica por cento e vinte e cinco mil-réis. Este mero cálculo bastará para que o Estado, e a econômica Classe Média que o dirige, impeçam com ardor a educação—provando, como iniludivelmente prova, que fumar é mais barato que pensar... Contrabalanço pensar e fumar, porque são, ó Carlos, duas operações idênticas que consistem em atirar pequenas nuvens ao vento».

Estas dispendiosas folhas têm todas a um canto as iniciais de Fradique—F. M.—minúsculas e simples, em esmalte escarlate. A letra que as enche, singularmente desigual, oferece a maior similitude com a conversação de Fradique: ora cerrada e fina, parecendo morder o papel, como um buril, para contornar bem rigorosamente a ideia; ora hesitante e demorada, com riscos, separações, como naquele esforço tão seu de tentear, espiar, cercar a real realidade das coisas: ora mais fluida e rápida, lançada com facilidade e largueza, lembrando esses momentos de abundância