A ESCRAVA ISAURA
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occulto aos olhos de sua virtuosa esposa, que com isso concebeo mortal desgosto.

Acabrunhado por ella das mais violentas e amargas exprobrações, o commendador não ousou mais empregar a violencia contra a pobre escrava, e nem tão pouco conseguio jámais por outro qualquer meio superar a invencivel repugnancia, que lhe inspirava. Enfureceo-se com tanta resistencia, e deliberou em seo coração perverso vingar-se da maneira a mais barbara e ignobil, acabrunhando-a de trabalhos e castigos. Exilou-a da sala, onde apenas desempenhava levianos e delicados serviços, para a senzala e os fragueiros trabalhos da roça, recommendando bem ao feitor, que não lhe poupasse serviço nem castigo. O feitor porém, que era um bom portuguez ainda no vigor dos annos, e que não tinha as entranhas tão empedernidas como o seo patrão, seduzido pelos encantos da mulata, em vez de trabalho e surras, só lhe dava caricias e presentes, de maneira que dahi a algum tempo a mulata deo á luz da vida a gentil escravinha, de que fallámos. Este facto veio exacerbar ainda mais a sanha do commendador contra a misera escrava. Expellio com improperios e ameaças o bom e fiel feitor, e sujeitou a mulata a tão rudes trabalhos e tão cruel tratamento, que em breve a precipitou no tumulo, antes que pudesse acabar de crear sua tenra e mimosa filhinha.

Eis ahi debaixo de que tristes auspicios nasceo a