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A ESCRAVIDÃO

necessidades e vivendo com muito pouco, não trabalhariam senão para ganhar o estrictamente necessario ; o que quer dizer, em outros termos, que, sendo a cobiça dos brancos muito maior que a dos negros, é preciso córtar á chicote estes afim de satisfazer os vicios d'aquelles. Além d'isto, esta razão é falsa. Os homens, depois de trabalharem para a subsistencia, trabalham para a abastança desde que pódem aspiral·a. Não ha povos verdadairamente preguiçosos nas nações civilisadas, senão os que são governados de tal modo que nada teriam a ganhar para si trabalhando mais. Não é ao clima, nem ao sólo, nem á constituição physica, nem ao espirito nacional, que se deve attribuir a preguiça de certos povos; porém sim ás más leis que os governam. Seria facil estabelecer esta verdade por meio de exemplos, percorrendo todos os povos desde a Inglaterra até o Mogol, desde o principado de Neufchàtel até a China. O que é certo, apenas, é que, quanto melhor é o sólo, quanto mais facilidades naturaes para o commercio tem a nação, mais necessario é que sejam más as leis para tornar o povo preguiçoso. Seria preciso, por exemplo, para destruir a industria dos Normandos e dos Silesianos muito peiores leis que para destruir a dos Neufchatelenses e dos Saboianos.

     A segunda razão a favor da escravidão dos negros é a natureza das culturas estabelecidas nas ilhas, culturas que — dizem — exigem grandes engenhos e o concurso de grande numero de braços; accrescendo que, estando os productos sujeitos a se deteriorarem rapidamente, ficaria