donos os obrigar á um excesso de fadiga, e os moços de cavallariça, por prazer ou capricho, se divertirem em espancaios. E não fallamos da velhice d’elles, que muito se assemelharia á dos escravos, si, por felicidade dos cavallos, a pelle d’elles para nada servisse.

     ¡E é este o exemplo que sériamente propõem os escravagistas para mostrar que um escravo será bem tratado, pelo principio de que é do interesse de seu senhor conservai-o! como si outro fosse o interesse do senhor pelo escravo, assim como pelo cavallo, senão tirar d’elle o maior proveito possivel. E como si não houvesse uma balança á consultar entre o interesse de conservar por mais tempo o escravo ou o cavallo, e o de obter d’elles, emquanto durarem, o maximo proveito!.....

     Demais, um homem não é um calvallo, e, obrigado ao regimem de captiveiro do cavallo mais estimado, seria ainda muito desgraçado.

     Os animaes sentem apenas as chicotadas e os mãos tractos, o homem sente a injustiça e o ultrage; os animaes só tem necessidades, ao homem bastam as privações para tornai-o desgraçado; o cavallo soffre apenas a dôr que sente, ao homem revolta tambem a injustiça de quem o castiga; os animaes só são desgraçados no momento presente, a desgraça, porém, do homem em um instante qualquer abraça sua vida inteira; finalmente, o senhor tem mais indisposição contra seus escravos do que contra seus cavallos, relativamente aos quaes tem menos que resolver, no emtanto que, com os escravos, irritam-lhe a firmeza do