preguiçoso do Brasil, e dizia-se um erro grosseiro, que a mudança das condicções daquella provincia veio revelar, desfasendo cathegoricamente a injustiça que se fazia ao caracter cearense.
Em 1845 a secca devastadora, que como um castigo ou como uma provação, a Providencia fez descer sobre o Ceará, extinguiu-lhe a sua principal industria, que era a creação de gado vacum.
Com essa enorme perda, a população ficou redusida, talvez, a menos da quarta parte dos recursos de que dispuzera, até então, para sua subsistência.
A penúria foi indiscriptivel, e por effeito della, foi mister recorrerão que tinha escapado á devastação.
Ora o que tinha escapado, limitava-se á escravatura, porque reservas pecuniárias, ninguém as tinha, ou se alguém as possuia, fora obrigado a gastal-as durante a seca; e as terras, que com os gados e os escravos constituião toda a fortuna do povo cearense, não tinhão o menor valor, visto como todos precisavão vendel-as e portanto não havia quem as procurasse.
O recurso, pois, em tal emergência, consistia na venda dos escravos, e todo o paiz sabe como de 1846 em diante a escravatura do Ceará affluiu aos mercados do Sul do império n'uma proporção espantosa.
A provincia ficou despovoada de escravos. Parece-me estar ouvindo os nossos fazendeiros do Sul, exclamarem nos ímpetos de sua commiseração pelos seus infelizes irmãos do Ceará:
Pobre Ceará! Como viver-se assim sem escravos? Como lavrar as terras, como manter sem negros, as fazendas de creação?!
De 1845 a 1869 vão 24 annos, e nesse período, do qual se devem abater uns 5 annos, durante os quaes ainda não tinha desapparecido a escravatura na provincia, a fortuna publica e a particular tem, como milagrosamente, crescido no Ceará.
A industria de crear tem hoje proporções muito superiores; e a lavoura tem prosperado espantosamente.
Centros importantes, que antes definhavão, depois da
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