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O governo estuda, pois, e estudará eternamente esta e todas as mais questões vitaes de nosso paiz, e nunca passará de estudos, porque querendo ser centro, chamar a si todos os negócios publicos, geraes, provinciaes, municipaes e individuaes, acaba por não poder materialmente dar conta de sua missão, e por não resolver senão aquelles pelos quaes se empenhão amigos e recomendados.

E quem recomendará aos ministros da corôa a causa desvalida do infeliz escravo?!

Deixemol-os tranquillos. Não vamos perturbal-os nesse estudar incessante em que procurão inspirar-se para a grande reforma da emancipação.

Pertenço a escola política que estabelece como principio absoluto a iniciativa do cidadão em todas as questões que interessão á sociedade.

Permittão, portanto, os ministros do Brasil, que usando desse direito, eu arrisque algumas idéas sobre o modo pratico de levar a effeito a grande refórma.

Sei bellamente que sem o bafejo governamental nenhuma idéa chega a frutificar nesta terra de liberdade; mas, não sei porque, tenho fé na força da opinião, e sobretudo confio na acção da Providencia, quando se trata de questões como esta, de que dependem os destinos de um povo.

O fraco e imperfeito trabalho que me propuz fazer, é um pequeno tributo que pago ao dever que corre a todo o brasileiro amante de seu paiz, de pugnar porque se popularise a necessidade de expurgar a sociedade desse vicio hereditario, que Deus não permitta seja ainda transmittido á geração que nos deve succeder.

Fique o governo em sua eterna impassibilidade, e vamos nós simples cidadãos, mas dedicados obreiros do progresso de nossa terra, espalhando a semente por todos os angulos do império, que um dia virá em que do Norte ao Sul, um brado de indignação, partido de todos os peitos brasileiros, levará de vencida a inércia de uns, e o emperramento de outros, e dará ao mundo o exemplo grandioso de um povo marchando adiante de seu governo na iniciação e promoção das grandes refórmas que a civilisação do nosso século reclama.