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Imitemos a Inglaterra, onde a opinião do povo é que dicta o proceder dos poderes públicos; onde as próprias leis não são senão a traducção fiel das idéas emanadas do povo, e elaboradas em seu seio.

Tomemos a posição que nos compete como cidadãos de uma nação livre; resgatemos o nosso direito de pensar, sequestrado até hoje pelo governo do paiz; não esperemos pelos outros; iniciemos nossas idéas; espalhemol-as pelo paiz; creemos-lhes proselitas; e contemos que por fim, quando o povo se mostrar conscio de seus direitos, a opinião do paiz ha de ser respeitada pelos poderes públicos.

Escreva o cidadão as suas impressões sobre as principaes refórmas de que precisamos; e se mais não se poder alcançar por esse meio, obter-se-ha, ao menos, que o povo tome conhecimento dessas questões e fórme sobre ellas o seu juizo.

Quebremos o sello que veda ao publico brasileiro o conhecimento das altas questões, cuja solução o governo reserva só para si.

Quebremos esse sello vergonhoso, discutindo cada um, como lhe for possível, ora uma, ora outra dessas importantes questões, de maneira que no momento de resolvel-as, se algum dia o fizer, saiba o governo que ha no paiz opinião formada a respeito dellas, e portanto que não é senhor de resolvel-as como lhe parecer.

Sei que essa lucta contra o monopolio do governo é descommunal, mas conto muito com a força da razão e do direito.

Por mim, desde que tenho a consciência de cumprir um dever de brasileiro e de liberal sincero, não receio seguir a senda que tenho traçado.

Em outra occasião, dei ao publico as minhas idéas sobre a refórma municipal. Hoje volto á scena, para offerecer á consideração de meus concidadãos o que julgo conveniente praticar, no empenho de conseguir a emancipação do elemento servil, sem prejuízo nem perigo para a sociedade.


Dous são os interesses que um projecto de emancipação deve respeitar; o interesse individual, baseado no direito