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ATLANTIDA
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— Mentiroso!

— Porquê?

— Éste Gastão da Fonseca! Então não acabo de vê-lo esconder-se à passagem de Etelvina? Vão recomeçar os escandalosos amores? Compreendo que voltou a paixão!

— Não é verdade. Recuei para evitar cumprimentos.

— Zanga ou mágoa?

— Mal estar apenas. Essa mulher é indecifrável.

— Como todas as mulheres!

— A Etelvina mais que as outras. Vivi com ela dois anos, e, quando a deixei, conhecia-a tanto como a primeira vez em que a vi. A esfinge de Gezireon seria mais confidencial. Foi talvez por isso que ainda tentei uma nova análise. Depois abstenho-me. É desconcertante!

— Francamente...

— Faz outra idéa de Etelvina?

— Meu caro Gastão. Conheço Etelvina há dez anos. Já nesse

tempo ela parecia menina e tinha nove filhos. Os jornais comparavam-na a um « biscuit » e Etelvina cantava como um carriço, e fazia-se incompreendida dos apaixonados... Conheço-a! Você não pretende positivamente voltar a amá-la? Pois bem. A minha opinião é que Etelvina não passa de uma idiotinha, cheia de pretenções...

Gastão da Fonseca riu estrepitosamente.

— Era o que eu pensava, mas com êrro! Até hoje não sei o que ela é! Se lhe contasse a nossa vida ficaria como eu...

— Conte, então.

— Perdemos o acto...

— Temos ainda quási um quarto de hora.

Gastão da Fonseca parecia desejoso de contar, porque sem transição continuou.

— Lembra-se do nosso namôro ? Começou aqui no Rio. Mandava-lhe flôres, ia à caixa, beijava-lhe a mão, que tremia. Etelvina estava com o ensaiador, um sujeito de nome Eusébio que também escrevia peças. As informações davam-na sempre fiel aos

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