118
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Bolos de bacalhau! Gonçalo sentio como a amargura de uma traição:

— Oh! que animaes!

E de repente ideou uma vingança alegre:

— Pois se vires hoje o Snr. D. Antonio ou o Snr. João Gouvêa não te esqueças de lhes dizer que sinto muito... Que eu tambem cá tinha á noite na Torre uma festa. E havia senhoras. Vinha a Snr. aD. Anna Lucena... Não te esqueças, hein?

Gonçalo galgou as escadas rindo da sua invenção. Mas, n’essa noite, ás nove horas, depois do arrastado e atochado jantar com o Manoel Duarte, entrou na sala grande dos retratos, apenas allumiada pelo lampeão dourado do corredor, para buscar uma caixa de charutos. E casualmente, atravez da janella aberta, reparou n’um homem que, em baixo, rente da sombra dos alamos, rondava, espreitava... Mais attento, imaginou reconhecer os poderosos hombros, o andar bovino do Titó. Mas não, com certesa! o homem trasia jaqueta e carapuço de lã. Curioso, abafando os passos, ainda se abeirou da varanda. O vulto porém descera da estrada, logo sumido sob as arvores d’uma quelha que contorna o Casal do Miranda, e desemboca adiante, na Portella, junto das primeiras casas de Villa-Clara.