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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

— Se ella não quer, ella não quer! gritava o José Barrôlo, gingando, com as mãos enterradas nos bolsos do jaquetão que lhe desenhava as ancas roliças. A culpa não é cá do patrão... Mas ella não se decide!

O fidalgo da Torre reprehendeu a irmã:

— Pois é necessário um menino. Eu por mim não caso, não tenho geito: e lá se vão d’esta feita Barrôlos e Ramires! A extincção dos Barrôlos é uma limpeza. Mas, acabados os Ramires, acaba Portugal. Portanto, Snr. aD. Graça Ramires, depressa, em nome da nação, um morgado! Um morgado muito gordo, que eu pretendo que se chame Tructesindo!

Barrôlo protestou, aterrado:

— O que? Turtesinho? Não! para tal sorte não o fabríco eu!

Mas Gracinha deteve aquelles gracejos picantes, desejosa de saber da Torre, e do Bento, e da Rosa cosinheira, e da horta, e dos pavões... Conversando, penetraram na outra sala, guarnecida de contadores da India, de pesados cadeirões dourados de damasco azul, com tres varandas sobre o Largo d’El-Rei. Barrôlo enrolou um cigarro, reclamou a historia do Relho, da grande desordem. Tambem elle arranjára uma «pega» com o rendeiro da Ribeirinha, por causa d’um córte de pinhal. Essa do Relho porém fôra tremenda...