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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

N’um trote folgado passára á Fabrica de Vidros, depois o Cruzeiro sempre coberto pelas pombas que esvoaçam do pombal da Fabrica. E entrava no logar de Nacejas — quando, á janella d’uma casinha muito limpa, rodeada de parreiras, appareceu uma linda rapariga, morena e fina, com jaqué de panno azul e lenço de cambraieta bordada sobre fartos bandós ondeados. Gonçalo, sopeando a egua, saudou, sorriu suavemente:

— Perdão, minha menina... Vou bem por aqui, para Canta-Pedra?

— Vae, sim senhor. Em baixo, á ponte, mette para a direita, para os alamos. E é sempre a seguir...

Gonçalo suspirou, gracejando:

— Antes desejava ficar!

A moça corou. E o Fidalgo ainda se torceu no selim para gosar a fina face morena, entre os dous craveiros da janellinha, na casa tão bem caiada.

N’esse momento, ao lado, d’uma quelha enramada, desembocava um caçador do campo, de jaleca e barrete vermelho, com a espingarda atravessada nas costas, seguido por dois perdigueiros. Era um latagão airoso, que todo elle, no bater dos sapatões brancos, no menear da cinta enfaixada em seda, no levantar da face clara de suissas louras, transbordava de presumpção e pimponice.