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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

por Villa-Clara, com todos os sinos a repicar... Quer tomar chá?

— Não, obrigado.

— Bem, então viva! Tipoia ámanhã e Governo Civil. Está claro, é necessario arranjar um pretexto...

O fidalgo acudiu, com alvoroço:

— Eu tenho um pretexto! Não!... Quero dizer, tenho necessidade real, absoluta, de fallar com o Cavalleiro ou com o Secretario Geral. É uma questão de caseiro... Até por causa d’essa infeliz trapalhada o procurava eu hoje a você, Gouveia!

E aldravou a aventura do Casco, com traços mais pesados que a ennegreciam. Durante semanas, afferradamente, esse fatal Casco o torturára para lhe arrendar a Torre. Mas elle tratára com o Pereira, o Pereira Brazileiro, por uma renda explendidamente superior á que o Casco offerecia a gemer. Desde então o Casco rugia, ameaçava, por todas as tabernas da Freguezia. E, n’essa tarde, surde d’uma azinhaga, rompe para elle, de varapau erguido! Mercê de Deus, lá se defendera, lá sacudira o bruto, com a bengala. Mas agora, sobre o seu socego, sobre a sua vida, pairava a affronta d’aquelle cajado. E, se o assalto se renovasse, elle varava o Casco com uma bala, como um bicho montez... Urgia pois que o amigo Gouveia chamasse o homem, o reprehendesse