A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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para Oliveira!... Positivamente vencera outra combinação — eis a sua confiança burlada! E recolheu á Torre, decidido a tomar um desforço tremendo do Cavalleiro por tanta injuria amontoada sobre o seu nome, sobre a sua dignidade! Toda a abafada e enevoada Sexta-feira a consumio amargamente meditando esta vingança, que queria bem publica e bem sangrenta. A mais saborosa, mais simples, seria rasgar a bigodeira do infame com chicotadas, na escadaria da Sé, um domingo, á sahida da missa! Ao escurecer, depois do jantar que mal debicára, n’aquelle despeito e humilhação que o pungiam, envergou o casaco para voltar a Villa-Clara. Não entraria no Telegrapho — já com vergonha do Nunes. Mas gastaria a noite na Assembléa, jogando o bilhar, tomando um alegre chá, lendo risonhamente os Jornaes Regeneradores, para que todos recordassem a sua indifferença — se por acaso, mais tarde, conhecessem a trama em que resvalára.

Desceu ao páteo, onde as arvores adensavam a sombra do crepusculo carregado de fuscas nuvens. E abria o portão, quando esbarrou com um rapaz que s’esbaforia sobre a perna manca e gritava: — «É um telegramma!» Com que voracidade lh’o arrancou das mãos! Correu á cozinha, ralhou desabridamente á Rosa pela falta da luz tardia! E, com um phosphoro a arder nos dedos, devorou, n’um lampejo,