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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

lamentos pelo «seu rico homem», resoavam, mais agudos, como a rebater e a abafar toda a consolação. E apenas Gonçalo empurrou timidamente a porta — quasi acuou no espanto e medo d’aquella afflicção estridente que se arremessava para elle e para a sua misericordia! De rojos nas lages, torcendo as magras mãos sobre a cabeça, toda de negro, parecendo mais negra e dolorosa contra a vermelhidão do lençol estendido que seccava ao lume forte da lareira — a creatura estalára n’um tumulto de supplicas e gritos:

— Ai, meu rico Senhor, tenha compaixão! Ai, que me prenderam o meu homem, que m’o vão mandar para a Africa degredado! Jesus, meus filhinhos da minha alma que ficam sem pae! Ai, pelas suas almas, meu senhor, e por toda a sua felicidade!... Eu sei que elle teve culpa! Aquillo foi perdição que lhe deu! Mas tenha piedade d’estas creancinhas! Ai, o meu pobre homem que está a ferros! Ai, meu rico Senhor, por quem é!

Com as palpebras humedecidas, agarrando desesperadamente, a boceta d’alperces, Gonçalo balbuciava, atravez da emoção que o estrangulára:

— Oh mulher, socegue, já o vão soltar! Socegue! Já dei ordem! Já o vão soltar!

E d’um lado a Rosa, debruçada sobre a escura creatura que gemia, recomeçava docemente: — «Pois