274
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

E S. Ex. a, envolvendo o Palacete n’um demorado olhar, desceu pela rua das Tecedeiras.

No seu quarto (sempre preparado, com a cama feita) Gonçalo acabava de se lavar, de se escovar, quando Barrôlo se precipitou pelo corredor, esbofado, soffrego — e atraz d’elle Gracinha, offegante tambem, desapertando nervosamente as fitas escarlates do chapeu. Desde a tarde em que Barrôlo «presenceára com os olhos bem acordados!» a palestra de Gonçalo e de André na varanda do Governo Civil — fervera n’elle e em Gracinha uma impaciencia desesperada por penetrar os motivos, a encoberta historia d’aquella reconciliação surprehendente. Depois a fuga de Gonçalo na caleche para a Torre, sem parar nos Cunhaes; a repentina jornada do Cavalleiro a Lisboa; o silencio que sobre aquelle caso se abatera mais pesado que uma tampa de ferro — quasi os aterrou. Gracinha á noite, no Oratorio, murmurava atravez das resas distrahidas: — «Oh, minha rica Nossa Senhora, que será?» — Barrôlo não ousára correr á Torre; mas até sonhava com a varanda do Governo Civil, que lhe apparecia enorme, crescendo, atravancando Oliveira, roçando já as janellas dos Cunhaes d’onde elle a repellia com o cabo d’uma vassoura... E eis agora Gonçalo e André que entram na cidade a cavallo, muito serenamente,