A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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seus bellos olhos a attenção e o interesse. E ella, que a furto, através do decôro melancolico a que se esforçava, adoçára o sorriso, attrahida e levada, murmurou apenas: — «Tem graça!» — D. Maria, porém, quasi esvoaçou sobre o banco de pedra, n’um extasis: — «Lindo! Lindo! Que poesia!... Oh! uma lenda de todo o appetite!» — E, para que Gonçalo desenrolasse ainda a graça do seu dizer, outras maravilhas da sua Chronica:

— Conte, primo, conte... E voltou para Craquêde esse tio Ramires?

— Quem, prima, o Gutierres?... Ou fosse elle tolo! Apenas se apanhou livre da massada da sepultura não appareceu mais em Santa Maria de Craquêde. O tumulo vasio, como está, e elle por Hespanha n’uma pandega heroica!... Imagine! um defunto que por milagre se safa do seu jazigo, d’aquella postura eterna, tão apertada, tão esticada!...

Subitamente emmudeceu, lembrando o Sanches Lucena, tambem esticado no seu caixote de chumbo, sob o seu vistoso jazigo d’Oliveira... — D. Anna baixára a face, mais sumida no véo, esfuracando a herva com a ponta da sombrinha. E a esperta D. Maria, para desfazer a sombra impertinente que de novo os roçára, rompeu n’outra curiosidade, que ainda se encadeava na nobreza dos Ramires:

— É verdade! Sempre me esquece de lhe perguntar.