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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

O primo ainda tem muitos parentes em França... Talvez tambem não saiba?

Sim! Gonçalo, casualmente, conhecia essa historia dos seus parentes de França — apezar de que o Videirinha os não cantára no Fado!

— Então conte! Mas que seja historia alegre!

Oh, não era prodigiosamente divertida! Um avô Ramires, Garcia Ramires, acompanhára nas suas famosas jornadas o Infante D. Pedro, o filho d’El-Rei D. João I... A Prima Maria sabia — o Infante D. Pedro, o que correu as Sete Partidas do mundo... Pois o Infante D. Pedro e os seus fidalgos, de volta da Palestina, pousaram um anno inteiro na Flandres, com o Duque de Borgonha. Até se celebraram então festas maravilhosas, com um banquete que durou sete dias, e que anda nos compendios da Historia de França. Onde ha danças ha amores. A avô Ramires sobejava imaginação e arrojo... Fôra elle que deante de Jerusalem, no Valle de Josaphat, lembrára que se erguesse um signalpara que o Infante e os seus companheiros de romagem se reconhecessem no grande Dia de Juizo. Depois, naturalmente, bello mocetão, de barba negra e cerrada á Portugueza... Emfim casára com uma irmã do Duque de Clèves, uma tremenda Senhora, sobrinha do Duque de Borgonha e Brabante. Mais tarde, através d’essas ligações, uma avó Ramires, já viuva, casou tambem em França