A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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com o conde de Tancarville. Esses Tancarvilles, Gran-Mestres de França, possuiam o mais formidavel castello da Europa, e...

D. Maria bateu as palmas, rindo:

— Bravo! lindamente! Sim, senhor!... Então o primo que se gaba de não saber nada de fidalguias... Olhe como conhece pelo miudo a historia d’esses grandes casamentos! Hein, Annica?... É uma Chronica viva!

Gonçalo vergou os hombros, confessou que se occupára de toda essa heraldica historia por um motivo bem rasteiro — por miseria!...

— Por miseria?

— Sim, prima Maria, por penúria de moeda, de cobres...

— Conte! conte! Olhe, a Annica está anciosa...

— Quer saber, Snr. aD. Anna?... Pois foi em Coimbra, no meu segundo anno de Coimbra. Os companheiros e eu chegamos a não juntar entre todos um vintem. Nem para cigarros! Nem para o sagrado decilitro de carrascão e as tres azeitonas do dever... Um d’elles então, rapaz muito engraçado, de Melgaço, surdiu com a idéa estupenda de que eu escrevesse aos meus parentes de França, a esses Clèves, a esses Tancarvilles, senhores de certo immensamente ricos, e sollicitasse, com desembaraço, um emprestimosinho de trezentos francos.