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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Com o velho Rico-Homem descêra D. Garcia Viegas, e os outros parentes do Solar — o decrepito Ramiro Ramires, um veterano da tomada de Santarem, torcido pelos rheumatismos como a raiz de um roble, e arrimando os passos tremulos, não a um bastão, mas a um chusso; o formoso Leonel, o mais moço dos Samoras de Cendufe, o que matára os dois ursos nos brejos de Cachamúz e que tão bem trovava; Mendo de Briteiros, o das barbas vermelhas, grande queimador de bruxas, lêdo arranjador de folgares e danças; e o agigantado Senhor dos Paços de Avellim, todo coberto, como um peixe fabuloso, de escamas que reluziam. Como o sol se acercava da margella do Poço grande, marcando a hora da arrancada sobre Monte-mór — já, dos fundos alpendres que escondiam os campos do tavolado, os cavallariços puxavam os ginetes de guerra, com as suas altas sellas pregueadas de prata, as ancas e os peitos resguardados por coberturas de couro franjado que rojavam nas lagens. Por todo o Castello se espalhára que o Bastardo, depois da lide fatal aos Ramires, correra de Canta-Pedra, ameaçava a Honra: — e debruçados dos passadiços que ligavam a muralha aos contrafortes da Alcaçova, ou mettidos por entre os engenhos d’arremesso que atulhavam as corredoiras, os moços da ucharia, os servos das hortas, os villões acolhidos para dentro das barbacans, espreitavam o