A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
355

o seu elmo cavamente bateu contra o arco da porta, onde o esperava Tructesindo com os Cavalleiros parentes.

— Senhor primo! bradou. Vosso filho Lourenço está deante das barreiras da Honra deitado sobre umas andas!

Com um rosnar d’espanto, um atropelo dos sapatos de ferro sobre as lages sonoras, todos seguiram pela poterna da albarran o Rico Homem — até ao escadão de madeira que se empurrava contra a quadrella das barbacans. E, quando o enorme velho surdio no eirado, um silencio pesou, tão ancioso, que se sentia para além do vergel o chiar triste e lento da nora e o latir dos mastins.

No terreiro, em frente á cancella gateada, o Bastardo esperava, immovel sobre o seu ginete, com a formosa face bem levantada, a face de Claro-sol, onde as barbas anelladas, cahindo nas solhas do arnez, rebrilhavam como ouro novo. Vergando o capello d’ouropel, saudou Tructesindo com gravidade e preito. Depois alçou a mão, que descalçára do guante. E n’um considerado e sereno fallar:

— Senhor Tructesindo Ramires, n’estas andas vos trago vosso filho Lourenço, que em lide leal, no valle de Canta-Pedra, colhi prisioneiro e me pertence pelo foro dos Ricos-Homens d’Hespanha. E de Canta-Pedra caminhei com elle para vos pedir que