A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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dhalias, encolhido, com os sapatos leves no saibro molle, costeou o repuxo por sob a ramaria dos arbustos, remergulhou na escuridão dos loureiros, deslisou surrateiramente por traz da estufa — penetrou no socego do Palacete. Mas o murmurio do Mirante ainda o envolvia, mais desfallecido, mais rendido — «Não, não, que loucura!... Sim, sim, meu amor!...»

Abalou atravez das salas desertas como uma sombra acossada; escorregou abafadamente pela escadaria de pedra, varou o portão n’uma carreira, espreitando, com medo do Joaquim da Porta. No Largo parou, deante da grade do relogio do sol. Mas o susuro do Mirante errava por todo o Largo como um vento enroscado, raspando as lages, batendo as barbas dos Santos sobre o portal da Egreja de S. Matheus, redemoinhando nos telhados musgosos da Cordoaria... — «Não, não, que loucura! Sim, sim! meu amor!» Então Gonçalo sentiu a anciedade desesperada d’escapar para longe, para immensamente longe do Largo, do Palacete, da cidade, de toda aquella vergonha que o trespassava. Mas uma carruagem?... Pensou na alquilaria do Maciel, a mais retirada, para além das ultimas casas, na estrada do Seminario. E cosido com os muros baixos d’essas ruas pobres, correu, mandou engatar uma caleche fechada.

Emquanto esperava á porta, n’um banco, passou pela estrada uma lenta carroça com moveis, panellas