382
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

empurraram a outro pensamento — á D. Anna Lucena, aos seus duzentos contos... Até que uma manhã encarou corajosamente uma possibilidade perturbadora: — casar com a D. Anna! — Por que não? Ella claramente lhe mostrára inclinação, quasi consentimento... Por que não casaria com a D. Anna?

Sim! o pae carniceiro, o irmão assassino... Mas tambem elle, entre tantos avós até aos Suevos ferozes, descortinaria algum avô carniceiro; e a occupação dos Ramires, atravez dos seculos heroicos, consistira realmente em assassinar. De resto o carniceiro e o assassino, ambos mortos, sombras remotas, pertenciam a uma Lenda que se apagava. D. Anna, pelo casamento, subira da Populaça para a Burguesia. Elle não a encontrava no talho do pae, nem no velhacouto do irmão — mas na quinta da Feitosa, já Rica-Dona, com procurador, com capellão, com lacaios, como uma antiga Ramires. Ah! sinceramente, toda a hesitação era pueril — desde que esses duzentos contos, de dinheiro muito limpo, de bom dinheiro rural, os trazia com o seu corpo, mulher tão formosa e séria. Com esse puro ouro, e o seu nome, e o seu talento, não necessitaria para dominar na Politica a refalsada mão do Cavalleiro... E depois que vida nobre e completa! A sua velha Torre restituida ao esplendor sobrio d’outras eras; uma lavoura de luxo no historico torrão de Treixedo; as