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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

avolumada, e que agora o emprestador, um certo Leite, d’Oliveira, reclamava com dureza. O seu alfaiate de Lisboa tambem o importunava com uma conta pavorosa, atulhando duas laudas. Mas sobretudo o desolava a solidão da Torre. Todos os alegres amigos dispersos pela beira-mar ou nas quintas. A Eleição encalhada como uma barca no lodo. A irmã de certo com o outrono Mirante. Até a prima Maria desattendendo ingratamente o seu timido pedido d’uma «conversasinha.» E elle no seu quente casarão, sem energia, immobilisado n’uma inercia crescente, como se cordas o travassem, cada dia mais apertadas — e d’homem se volvesse em fardo.

Uma tarde no seu quarto, vagaroso e sombrio, sem mesmo parolar com o Bento, acabava de se vestir para montar a cavallo, espairecer n’um galope pelos caminhos de Valverde — quando o pequeno da Crispola (já estabelecido na Torre como pagem, de fardeta de botões amarellos) bateu esbaforidamente á porta. — Era uma senhora que parára ao portão, dentro d’uma carruagem, pedia ao Fidalgo para descer...

— Não disse o nome?

— Não, senhor. É uma senhora magra, puxada a dous cavallos, com redes...

A prima Maria! Com que alvoroço correu, agarrando no cabide do corredor um velho chapeu de