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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

a porta dos Cunhaes, confiado na seriedade, no rigido orgulho da irmã — e logo a irmã s’abandona ao antigo enganador, sem lucta, na primeira tarde em que se encontra com elle na sombra favoravel d’um caramanchão! Agora pensa em casar com uma mulher que lhe offerecia com uma grande belleza uma grande fortuna — e immediatamente um companheiro de Villa-Clara passa e segreda: — «A mulher que escolheste, Gonçalinho, é uma marafona cheia d’amantes!» De certo essa mulher não a amava com um amor nobre e forte! Mas decidira accommodar nos formosos braços d’ella, muito confortavelmente, a sua sorte insegura — e eis que logo desaba, com esmagadora pontualidade, a humilhação costumada. Realmente o Destino malhava sobre elle com rancor desmedido!

— E por quê? murmurava Gonçalo, despindo melancolicamente o casaco. Em vida tão curta, tanta decepção... Porquê? Pobre de mim!

Cahio no vasto leito como n’uma sepultura — enterrou a face no travesseiro com um suspiro, um enternecido suspiro de piedade por aquella sua sorte tão contrariada, tão sem soccorro. E recordava o presumpçoso verso do Videirinha, ainda n’essa noite proclamado ao violão:

Velha casa de Ramires
Honra e flor de Portugal!