e lhe aconselha por traz do leque que se interesse pela D. Anna — logo elle, fumegando d’esperança, ergue sobre o dinheiro e a belleza de D. Anna uma presumpçosa torre de ventura e luxo. E a Eleição? essa desgraçada Eleição? Quem o empurrára para a Eleição, e para a reconciliação indecente com o Cavalleiro, e para os desgostos d’ahi manados? O Gouveia, só com leves argucias, murmuradas por cima do cache-nez desde a loja do Ramos até á esquina do Correio! Mas que! mesmo dentro da sua Torre era governado pelo Bento, que superiormente lhe impunha gostos, dietas, passeios, e opiniões e gravatas! — Homem de tal natureza, por mais bem dotado na Intelligencia, é massa inerte a que o Mundo constantemente imprime fórmas varias e contrarias. O João Gouveia fizera d’elle um candidato servil. O Manuel Duarte poderia fazer d’elle um beberrão immundo. O Bento facilmente o levaria a atar ao pescoço, em vez d’uma gravata de seda, uma colleira de couro! Que miseria! E todavia o Homem só vale pela Vontade — só no exercicio da Vontade reside o goso da Vida. Por que se a Vontade bem exercida encontra em torno submissão — então é a delicia do dominio sereno: se encontra em torno resistencia — então é a delicia maior da lucta interessante. Só não sahe goso forte e viril da inercia que se deixa arrastar mudamente, n’um silencio e macieza
Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/420
412
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES