A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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de cera... Mas elle, elle, descendendo de tantos varões famosos pelo Querer — não conservaria, escondida algures no seu Ser, dormente e quente como uma braza sob cinza, uma parcella d’essa energia hereditaria?... Talvez! nunca porém n’esse pêco e encafuado viver de Santa Ireneia a fagulha despertaria, resaltaria em chamma intensa e util. Não! pobre d’elle! Mesmo nos movimentos da Alma onde todo o homem realisa a liberdade pura — elle soffreria sempre a oppressão da Sorte inimiga!

Com outro suspiro mais se enterrou, s’escondeu sob a roupa. Não adormecia, a noite findava — já o relogio de charão, no corredor, batera cavamente as quatro horas. E então, atravez das palpebras cerradas, no confuso cançasso de tantas tristezas revolvidas, Gonçalo percebeu, atravez da treva do quarto, destacando pallidamente da treva, faces lentas que passavam...

Eram faces muito antigas, com desusadas barbas ancestraes, com cicatrizes de ferozes ferros, umas ainda flammejando como no fragor de uma batalha, outras sorrindo magestosamente como na pompa d’uma gala — todas dilatadas pelo uso soberbo de mandar e vencer. E Gonçalo, espreitando por sobre a borda do lençol, reconhecia n’essas faces as veridicas feições de velhos Ramires, ou já assim comtempladas em denegridos retratos, ou por elle assim