436
A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

E á porta do escriptorio, onde todos pararam, novamente attentos, a historia recomeçou, especialmente para o Bento, que a bebia, n’um lento riso de gosto, crescendo, inchando, com os olhinhos humidos a reluzir, como se tambem triumphasse. Por fim, triumphou, com estrondo:

— Foi o chicote, Snr. Doutor! O que serviu ao Snr. Doutor, foi o chicote que eu lhe dei!

Era verdade. E Gonçalo, commovido, abraçou o velho aio, que n’uma excitação, gritava para a Rosa, para Gracinha, para o Barrôlo:

— O Snr. Doutor deu cabo d’elles!... Aquelle chicote mata um homem!... Os malvados estão mortos!... E foi o chicote! Foi o chicote que eu dei ao Snr. Doutor!

Mas Gonçalo reclamava agua quente para se lavar da poeira, do suor, do sangue... E o Bento correu, berrando ainda pelo corredor! depois pelas escadas da cosinha — «que fôra o chicote! o chicote, que elle déra ao Snr. Doutor!» Gonçalo entrára no quarto, acompanhado pelo Barrôlo. E pousou o chapeu sobre o marmore da commoda, com um immenso ahconsolado! Era o consolo immenso de se encontrar, depois de tão violenta manhã, entre as doces cousas costumadas, pisando o seu velho tapete azul, roçando o leito de pau preto em que nascera, respirando pelas vidraças abertas, onde as ramagens familiares