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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Bento, no seu encarecimento da façanha, achava a copa amolgada — até chamuscada.

— A bala passou de raspão, Snr. Doutor!

O Fidalgo negou, com a modestia grave d’um forte:

— Não! Nem de raspão!... Quando o malandro desfechou já o braço lhe tremia... Devemos agradecer a Deus, Bento. Mas eu realmente não corri grande perigo!

Depois de vestido, Gonçalo, passeando no quarto, releu a carta. Sim, certamente das Lousadas. Mas agora essa maledicencia, soprada com tão sordida maldade sobre as pobres bochechas do Barrôlo, não causava damno — antes servia, quasi beneficamente, como a braza d’um ferro, para sarar um damno. O pobre Barrôlo apenas se impressionára com a revelação da sua bacoquice, essa ingrata alcunha posta pelos rapazes amigos, em galhofas ingratas do Club e debaixo dos Arcos. A outra insinuação terrivel, Gracinha reverdecendo ao calor amoroso do Cavalleiro, essa mal a comprehendera, escassamente a attendera n’um desdem distrahido e candido. Mas a carta que assim silvava por sobre o bom Barrôlo como flecha errada — acertava em Gracinha, feriria Gracinha no seu orgulho, no seu impressional pudor, mostrando á pobre tonta como o seu nome e mesmo o seu coração, já arrastavam enxovalhadamente,