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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

— Em Oliveira, nada... Muito calor!

Gonçalo, movendo os dedos lentos pela moldura do espelho, fino entrelaçamento de açucenas e louros, murmurou:

— Eu sei apenas das Lousadas, das tuas amigas Lousadas. Continuam em plena actividade...

Gracinha negou candidamente:

— As Lousadas? Não! Nem teem apparecido.

— Mas teem tecido!

E como os verdes olhos de Gracinha se alargaram, sem comprehender, Gonçalo arrancou vivamente da algibeira a carta que guardára, que agora lhe pesava, como uma chapa de ferro:

— Olha, Gracinha! Mais vale desabafarmos! Ahi tens o que ellas ha dias escreveram a teu marido...

N’um relance, Gracinha devorou as linhas terriveis. E com ondas de sangue nas faces, apertando as mãos n’uma afflicção, um desespero, em que o papel amarfanhou:

— Oh Gonçalo! pois...

Gonçalo accudio:

— Não! o Barrôlo não se importou! Até se rio! E eu tambem, quando elle me entregou esse papelucho... E a prova que ambos o consideramos uma mexeriquice insensata, é que eu t’o mostro tão francamente.

Ella esmagava a carta nas mãos juntas e tremulas,