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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Uma hora batia quando entraram na varanda onde a mesa esperava, florida e em festa — e Gracinha, á beira do divan, percorria pensativamente a velha Gazeta do Porto. Apesar de muito banhados, os seus bellos olhos conservavam um ardor: e para o justificar, e o seu modo abatido, logo se lastimou, córando, d’uma enxaqueca. Eram as emoções, o perigo de Gonçalo...

— Tambem eu tenho dôr de cabeça! declarou o Barrôlo, rondando a mesa. Mas a minha vem da fome... Oh filhos, é que estou desde as sete da manhã com uma chavena de café e um ovo quente!

Gonçalo repicou a campainha. Mas quem rompeu pela porta envidraçada, esbaforido, escancarando a bocca n’um riso immenso, foi o Joaquim, o moço da cavallariça que voltava da Grainha.

Gonçalo atirou os braços, soffrego:

— Então?! então?!

— Pois lá estive, meu Fidalgo! exclamou o Joaquim com o peito a estalar d’importancia. E vae por lá um povoleu, todos já sabem! Uma rapariga dos Bravaes espreitou tudo, de dentro do quinteiro... Depois correu, badalou... Mas o velho, o tal Domingues que mora na casa, e o filho, abalaram ambos. E o rapaz, ao que dizem, pouco ferido. Se cahio, sem sentidos, foi com o susto. O Ernesto de