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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Bayão, deante das muralhas de Santa Ireneia, com o sol no ceu alto a olhar a traição! Indignado, o velho Castro esmurraçou a mesa, onde um rosario d’ouro se misturava a grossas peças de xadrez; jurou pela vida de Christo, que, em sessenta annos d’armas e surpresas nunca soubera de feito mais vil! E agarrando a mão do senhor de Santa Ireneia, ardentemente lhe offereceu, para a empreza da santa vingança, a sua hoste inteira — tresentas e trinta lanças, vasta e rija peonagem.

— Por Santa Maria! Formosa arrancada! bradou Mendo de Briteiros com as vermelhas barbas a flammejar de gosto.

Mas D. Garcia Viegas, o Sabedor, entendia que para colherem o Bastardo vivo, como convinha a uma vingança vagarosa e bem gosada, mais utilmente serviria uma calada e curta fila de cavalleiros, com alguns homens de pé...

— Porquê, D. Garcia?

— Porque o Bastardo, depois de se aligeirar, junto da Ribeira, da pionada e carriagem correra, com a mira em Coimbra, para se acolher á força da Hoste Real. N’essa noite, com o seu esfalfado bando de lanças, pernoitára certamente no solar de Landim. E com o luzir da alva, para encurtar, certamente retomava a galopada pelo velho caminho de Miradães, que trepa e foge atravez das lombas do Caramulo.