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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

que da outra embocadura do valle surde o cerrado troço dos cavalleiros de Santa Ireneia, que Tructesindo guia, com a viseira erguida, sem broquel, sacudindo apenas uma ascuma de monte como se folgadamente andasse em caçada. Da selva arredada que os encobria, rompem por traz as lanças dos Castros, ristadas e cerrando a brecha mais densamente que as puas d’uma levadiça. Do recosto dos cerros róla, como reprêsa solta, uma rude e escura peonagem! Colhido, perdido, o Bastardo terrivel! Ainda arranca furiosamente a espada, que redomoinhando o corôa de coriscos. Ainda com um fero grito arremette contra Tructesindo... Mas bruscamente, d’entre um escuro magote de fundeiros baleares, parte ondeando uma corda de canave, que o laça pela gargalheira, o arranca n’um brusco sacão da sela mourisca, o derriba, sobre pedregulhos em que a sua larga espada se entala e se parte rente ao punho dourado. E emquanto os cavalleiros de Bayão aguentam assombradamente o denso cerco de lanças, que os envolvera — um rôlo de peões, em dura grita, como mastins sobre um cerdo, arrastam o Bastardo para a lomba do outeiro, onde lhe arrancam broquel e adaga, lhe despedaçam o brial de lã rôxa, lhe quebram os fechos do elmo, para lhe cuspirem na face, nas barbas côr de ouro, tão bellas e de tanto orgulho!

Depois a mesma bruta matula o iça, amarrado,